quinta-feira, março 27, 2008

Poesias/José Régio
SONETO DE ONAN

Chegando nú,cantei.Cantei,é certo,
minha nudez ansiosa e lastimável.
Fez-se,em redor de mim,terror,deserto...
Que uma nudez assim é pouco amável.
"Esta gente esperava-me encoberto",
(Pensei)"mas nunca eu soube ser afável...",
e então vagueei cantando,em meu deserto,
minha nudez ansiosa e lastimável.
Só,vagabundo,assim desci mais fundo:
na Torre de Babel da minha ermida,
já vivo mais que a minha própria vida!
Já,repelido,em vós me continuo...
sim!Só a mim me entrego e me possuo,
porque eu me busco para achar o mundo!
José Régio