sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Melancolia

Aonde vão todas estas crianças que não se riem?
Estes seres doces e pensativos que a febre fez emagrecer?
Estas meninas de oito anos que vão sozinhas?
Vão trabalhar quinze horas debaixo da mó;
Vão,de manhã à noite,fazer eternamente
o mesmo movimento na mesma prisão.
Agachados sob os dentes de uma máquina sombria.
Monstro terrível que mastiga na sombra sabe-se lá o quê,
inocentes numa prisão,anjos num inferno,
eles trabalham.Tudo é de bronze,tudo é de ferro.
Nunca param e nunca brincam.
E que palidez também!Têm a cara coberta de cinza,
mal nasceu o dia e já estão tão cansados!
Não percebem nada do seu destino!
Parecem dizer a Deus:pequenos como somos,
pai,vede o que nos fazem os homens!
(...)
Trabalho ruim que os apanha de tenra idade,
que produz a riquesa criando miséria,
que se serve de uma criança como de uma ferramenta!
O progresso de que se fala;para onde vai?O que quer?
Ele que destroi a juventude em flor!Que dá,em suma,
uma alma á máquina e a retira ao homem!
Maldito seja este trabalho,odiado pelas mães.
Maldito como a vida que degrada,
maldito como o opróbio e como a blasfémia!
Oh Deus!Que ele seja maldito em nome do próprio trabalho,
em nome do verdadeiro trabalho,são,fecundo,generoso,
que faz o povo livre e o homem feliz!
VICTOR HUGO/excerto de" Melancolia"/As contemplações/Bruxelas 1856